A Kraft the home store abriu suas vitrines para receber o belíssimo manifesto artístico de nossos amigos, a arquiteta e produtora cultural Consuelo Cornelsen, o artista plástico Eduardo Bragança e o arquiteto, Jayme Bernardo.
O país enfrenta hoje um momento de reflexão.
Eventualmente nos perguntamos se estamos todos cumprindo nossos deveres com a sociedade. Seria a corrupção privilégio apenas daqueles que saem nas páginas dos jornais?
Quem somos nós, senão o fator de mudança neste cenário?
A arte tem este papel questionador, tem em sua história o fio condutor de grandes transformações sociais.
Eles contam nesta entrevista exclusiva como aconteceu este processo criativo.
Kraft – Como aconteceu este encontro de ideias?
Consuelo Cornelsen – A ideia surgiu do pensamento de que ninguém havia pensado nisso. Então, “se os outros fazem eu não faço”, já dizia Flávio de Carvalho. Na nossa área de arquitetura, design e cenografia entendi ser uma forma de expressão incrível! Temos acesso a um local privilegiado onde as pessoas passam e de alguma forma veem e se comovem ou se revoltam, dependendo do olhar interpretativo, seja a favor da justiça ou contra a corrupção.
Eduardo Bragança – Quando fui convidado pela Consuelo, ela considerou a expressão do meu trabalho e entendeu este perfil como um motivador para tratar este tema também muito expressivo, atual e ativo. Desta maneira, enfatizamos que não estamos estáticos, inertes ou indiferentes. O resultado foi um forte impacto vindo da união das imagens dos painéis com questionador cenário criado pela Consuelo e pelo Jayme.
Jayme Bernardo – Usando como base todos os recentes acontecimentos na política, os escândalos, desvios de verba, mensalão e tantas outras variações, abordamos este tema como reflexão, com a finalidade de provocar. Queríamos chamar a atenção para tantas injustiças que assolam nosso país. Seria a corrupção privilégio apenas daqueles que saem nas páginas dos jornais?
Kraft – Quem são os personagens em “Justiça” e em “Corruptos, corruptores, corrupção”?
Consuelo Cornelsen – A vitrine Justiça partiu da frase do meu neto Theodoro. A vitrine contra a Corrupção, corruptos e corruptores, surgiu de uma frase do filósofo Romano Cícero que diz “o maior estímulo para cometer faltas é a esperança da impunidade”. Houve uma sinergia maravilhosa entre nós três desde a primeira conversa.
Eduardo Bragança – A mensagem está no todo, no cenário, no contexto que representa as transações financeiras que aconteceram secretamente, o pacto silencioso entre aquelas pessoas e o impacto na sociedade. Ao observar o conjunto das vitrines, você percebe um painel mais leve que o outro, com mais cores e mais brilho. Nele, o rosto da justiça tem uma lágrima sofrida. Já o painel dos corruptos tem um visual mais pesado, denso, o panorama mais avermelhado, cinza e preto. Corrupção, é a palavra chave que denuncia o óbvio. Estes são temas atuais que nunca tive que enfrentar, tornou-se um desafio, é um tema pesado.
Jayme Bernardo – A interpretação preferimos deixar livre ao público. Montamos o cenário para exatamente despertar o senso crítico em cada expectador e colocar em pauta a questão da corrupção.
Kraft – Podemos dar-lhes nomes?
Consuelo Cornelsen – Não vou dar nomes aos personagens. Mas saibam que eles foram desenvolvidos a partir de fatos relatados e fotos da mídia impressa. Através das fotografias destas pessoas criei um padrão dos corruptos. Convido o público a observar com atenção estes personagens, eles facilmente serão reconhecidos.
Eduardo Bragança – No caso dos painéis, o trabalho tem muito do retrato, do inspirador, positivo, aleatório. Foi saltar do contemporâneo para focar num tema.
Jayme Bernardo – Não foram nominados. Mas cada cena representa um momento específico de corrupção, de tramoias e propinas. É possível fazer um paralelo as histórias divulgadas na mídia e descobrir!
Kraft – Qual é o seu sentimento em relação ao futuro do Brasil?
Consuelo Cornelsen – A vitrine Justiça fala exatamente do que acredito: quando se exerce este poder do amor, compartilhamos, pertencemos e harmonizamos este lugar que é nosso. Mudamos o que pode ser mudado a partir de nós mesmos, da verdade de nossos atos , da ação e do respeito. Espero tudo do Brasil e quero ser parte desta reconstrução. Nosso futuro, estamos indo!
Eduardo Bragança – A corrupção acontece em todo lugar do mundo. Os julgamentos podem representar uma mudança. Tenho o sentimento de revolta pelo engano causado na população. Ao contrário de sair da política, ou do Brasil, deveria haver uma entrada de novas pessoas, de pensamentos positivos, para não haver uma espiral negativa. Nós passamos por isso em Portugal e quero viver independente destes problemas, contribuindo da melhor forma. Seja no trabalho, dando um ânimo, melhorando o astral, questionando, acabando com o marasmo das pessoas.
Jayme Bernardo – Esperança. Não podemos desistir, vamos superar este momento com muito trabalho e fazer justiça nas urnas.
Créditos das fotos: Gilson Camargo, Cynthia Bondan e Egon Peressoni